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escolher ações: uma abordagem rápida para um investidor iniciante

Apresentamos aqui uma rápida introdução para você, investidor iniciante, sobre os principais conjuntos de conhecimento para conseguir escolher ações para sua carteira.

Em primeiro lugar, vamos separar aqui o investidor do especulador.

O investidor está preocupado com a construção de uma carteira sólida de ações, visando dividendos e ações com potencial de crescimento no longo prazo.

O especulador quer tentar descobrir grandes negócios no curto prazo. Para cada especulador de sucesso, há centenas, talvez milhares de especuladores fracassados. 

Aconselhamos que você tome a decisão de se tornar um Investidor com “I” maiúsculo, aprendendo sempre, estudando e buscando aprimoramento dos seus conhecimentos e técnicas.

Este é um caminho mais árduo e trabalhoso, exige paciência e disciplina, mas essa dedicação acaba se pagando no longo prazo, com a construção de um patrimônio e maior tranquilidade financeira no futuro.

Neste artigo, você vai entender quais são as principais técnicas para escolher ações.

Intimidade com o setor.

Suponha que você seja engenheiro e já trabalhou no setor elétrico. Ou tenha anos de experiência como vendedora de moda.

Essa experiência sem dúvida vai se refletir na hora de interpretar números e notícias de empresas do setor elétrico, no caso do engenheiro, ou de varejo, no caso da vendedora.

Mas não é condição necessária nem suficiente para ser um bom stock picker

Análise Técnica.

Um bom analista técnico consegue reconhecer padrões em gráficos para qualquer tipo de ativo. Nesse caso, não chega a importar o tipo do ativo.

Pode ser um mini-contrato de futuro da Bovespa, ou futuro de níquel na Austrália, ações de tecnologia da NASDAQ ou pork belly na Bolsa de Mercadorias de Chicago.

O conhecimento dessas técnicas requer bastante estudo, e também apresenta uma série de imprecisões.

A literatura sobre análise técnica é a primeira a apontar que determinado tipo de padrão gráfico apresenta um determinado potencial de acerto/erro na previsão de queda/alta.

Ex.: Padrão candlestick O-C-O. Taxa de fracasso de 4% (segundo o livro Análise Técnica dos Mercados Financeiros, de Flavio Lemos)

Análise Fundamentalista.

Aqui se concentram as técnicas que consideramos mais efetivas para a construção de uma boa carteira de ações para longo prazo. Dessa forma você poderá escolher ações de qualidade.

Muitos dos conceitos que apresentaremos são trazidos de livros como “O Investidor Inteligente”, escrito por Benjamin Graham e publicado pela primeira vez em 1949.

Benjamin Graham foi talvez um dos primeiros a sistematizar os conceitos da análise fundamentalista, tendo sido inclusive advisor de Warren Buffett.

A análise fundamentalista requer como embasamento matemático o conhecimento das quatro operações fundamentais e da compreensão do conceito de juros compostos.

Seriam desejáveis o conhecimento de alguns conceitos fundamentais de Contabilidade, e também de Matemática Financeira (como Valor Presente Líquido, Taxa de Retorno, etc).

Caso você não conheça bem esses elementos, acreditamos que seja possível aprendê-los gradualmente enquanto vai conhecendo as técnicas de análise.

A fonte das informações para a análise fundamentalista é o balanço publicado pelas empresas. Em geral estão disponíveis no site das mesmas (na área dedicada a Relações com Investidores).

É a partir deles que buscamos as informações que serão utilizadas para entender melhor a empresa.

A análise pode ser feita visando futuro (tentar prever o crescimento dos lucros objetivando uma valorização e dividendos potenciais) ou estudando o passado da empresa.

A análise de desempenho futuro de uma empresa é algo que não recomendamos para principiantes.

Pequenas variações de taxas de crescimento (da ordem de décimos de ponto percentual), aplicadas em um número suficiente de períodos podem causar distorções enormes no preço final calculado da ação.

Benjamin Graham fala em investidor defensivo: um investidor que tem o perfil totalmente diferente do “investidor empreendedor” ou do especulador.

O investidor defensivo busca empresas estáveis, relativamente seguras, com boas perspectivas de pagamento de dividendos, e que navegam em mercados relativamente calmos.

Antifrágilidade.

Buscamos nessas empresas sinais de antifragilidade, ou seja, a capacidade de resistir adequadamente a momentos de crise, enquanto acabam se beneficiando da fragilidade de seus concorrentes.

A partir daí, Graham propõe os seguintes critérios (adaptaremos alguns à realidade brasileira):

  • Tamanho: a empresa precisa ser robusta para suportar períodos de crise na economia. Na edição de 1973 de “O Investidor Inteligente”, Graham falava em receita mínima de US$ 100M/ano para empresas industriais e ativos de US$ para empresas de utilities. Em nossa interpretação, e visando simplificação, as empresas listadas no índice Ibovespa têm as condições adequadas para este corte (embora mereçam uma avaliação crítica)
  • Condição financeira robusta: a razão entre Ativo Circulante/Passivo Circulante (o chamado índice de Liquidez Corrente) deve ser de no mínimo 2. Esse valor mostra que a empresa tem as condições de garantir sua segurança financeira
  • Estabilidade de lucros:  pelo menos dez anos ininterruptos de lucros 
  • Histórico de dividendos: pagamentos ininterruptos pelos últimos vinte anos (aqui cabe mais um comentário de ajuste à realidade brasileira: dificílimo achar empresas assim. Na edição de 1973 do livro do Graham, temos empresas pagando dividendos ininterruptamente desde 1882!!!. Em sua análise, veja o histórico de pagamento de dividendos e considere se é de boa qualidade)
  • Crescimento dos lucros: um crescimento mínimo de 33% no lucro por ação nos últimos dez anos.
  • Razão Preço/Lucro: não deve exceder 15 vezes a média de lucros dos últimos três anos. Ações de boas empresas são caras. Mas não devem ser muito caras
  • Razão Preço/Valor Patrimonial: não deve exceder 22.5. Mesmo motivo acima exposto: uma boa empresa não deve ser cara demais.

É importante entender que a análise fundamentalista não se esgota por aí.

Existem outros indicadores que podem ser estudados, como margens, crescimento de margens, ROE (retorno sobre patrimônio), ROI (retorno sobre investimento), endividamento, relação dívida/patrimônio, dívida/EBITDA, e muitos outros.

Mas no final das contas, o que vamos tentar comparar com outras empresas para bem escolher as ações que compramos pode ser resumido em três critérios principais:
  • Antifragilidade: resiliência a crises, capacidade de beneficiar-se de cenários turbulentos (relativamente fácil de mensurar pelos critérios clássicos da análise fundamentalista, conforme exposto acima) 
  • Leia mais sobre: Antifrágil o processo diante do caos.
  • Opcionalidade: capacidade de diferenciação e inovação atingindo lucros e crescimento extraordinários (ex.: Magazine Luiza, Apple, etc). Não é fácil de mensurar (se fosse, o mercado inteiro já teria  previsto o desempenho de MGLU em 2015), e requer conhecimento mais direto das empresas, de seu modelo de negócio, do seu ambiente competitivo, etc. Podemos dizer que é medida de forma mais qualitativa que quantitativa.
  • Preço: devemos balizar se estamos pagando muito caro por um ativo. A relação P/L (o quociente calculado entre preço e lucro) da MGLU3 em 12/19 era da ordem de 76. De PCAR era da ordem de 22, e de LREN, cerca de 40. A partir desse número, podemos tentar entender se estamos pagando muito caro dentro de um setor por um determinado papel. Haverá razões para se pagar caro? É entusiasmo pelo desempenho recente? Há inovações “no ar”? Como estão as expectativas pelo desempenho no futuro próximo da empresa e do setor?

Conclusão.

Assim, com base nessa linha de raciocínio, podemos conduzir análises de boa qualidade para você escolher ações necessárias para a sua carteira. 

Lembramos que em qualquer mercado, o preço é o ponto no qual comprador e vendedor entram em acordo sobre um ativo, seja ele uma mercadoria, uma ação, um imóvel, um contrato, um serviço.

Se refletirmos, podemos chegar à conclusão de que comprador e vendedor divergem sobre o valor: o comprador compra porque acha que vale mais que o preço. O vendedor vende porque acha que seu ativo vale menos que o preço. Mas eles convergem quanto ao preço.

O preço embute expectativas. Se houve a transação, provavelmente há uma divergência entre expectativas por parte do comprador e do vendedor.

Concluímos reiterando nossa sugestão de que você se torne um investidor, e decida se aprofundar no estudo da seleção de ações e da interpretação de seu valor.

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Luiz Fernando Roxo

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